Numa idade em que se copia tudo quanto se
vê, em que até os gestos de parvos nós tentamos imitar, num tipo de sociedade
que cria uma linguagem própria, reduzida a meia dúzia de chatices, meninos, mais chatices, encantos,
maçadas, jóias, onde ninguém tem
paciência para ninguém e as falas são em monossílabos quase grunhidos, fácil é
vestir a pele do lobo que ao nosso lado intimida pela cor. Assim, num meio
reduzido às suas exigências de impenetrabilidade linguística, era fácil eu
soçobrar. Para puco ou nada serviam as minhas experiências, menos saber quais
as reações frente à panorâmica de tão extraordinária viagem que há pouco
fizera. As viagens na sociedade são a Paris, excepto quando há operações —
então vai-se a Londres, ou no Inverno, depois das assembleias gerais dos
lucros, bate-se o cu nas pistas de Davos, Arosa, S. Anton. Igualmente as
viagens dentro do nosso país se resumem ao giro que leva tudo a uma chatice
entre Estoril, Cascais e Lisboa. Ir mais além é desafiar uma aventura para que
não estão preparados, porque a raros foram aqueles que entraram na vida pela
escola da vida.
em O Mundo à Minha Procura II, Lisboa: Assírio & Alvim, 2ª edição
(1ª edição, Parceria A.M. Pereira, Lda, 1966), 1993, pp. 93-94.
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