Estou
a trabalhar há vários anos num livro composto por um único poema
longo sobre um veterano sul-africano da guerra contra Angola, e
quanto mais tento perceber a natureza psicológica da guerra, mais
vejo a sua dinâmica original na história de Abraão e Isaac. Não
estou de acordo com Kierkegaard no seu Temor e Tremor, pois para mim
o “salto de fé” é apenas uma crença na governação, seja ela
real ou metafísica. Quanto mais trabalho sobre esse livro, ainda a
repensar as ideias de Southern
Barbarians (os
meus poemas sobre o império português)* e estes
poemas relacionados com o facto de sermos “infiéis”, mais sinto
que o poder está sempre a tentar derrotar-nos ou a hipnotizar-nos. E
os bons poemas interferem com isso.
em “Ecolalia, ou entrevista com um fantasma”, tradução de Inês
Dias, em Cão Celeste, Lisboa, n.º 5, p. 36. (o texto, no original inglês, surge como posfácio ao livro, de John Mateer, Unbelivers, or 'The Moor',
Giramondo, 2013, pp. 145-161)
*
edição portuguesa: Namban, tradução de Andreia Sarabando,
Medula, 2014.
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