Discos pedidos (118)




A esta hora não há praticamente ninguém no prédio. As ruas também estão desertas e há, apenas, o ocasional carro que passa. A louça do almoço foi lavada. Roupa há que acaba de secar ao sol tardio de Outubro. Tento ler um ou dois versos de um livro: Mas quem diria/que em frente era infinito, o mar/uma roda furada, que raio de vida/e o cão, agitado, sempre a ladrar*: mas paro a meio, porque dou conta que o cão, do prédio ao lado, ladra. Vou até ao terraço. Pergunto — o que se passa, rapaz? — e ele olha para mim. De seguida larga um uivo. E sei que, para ele, não há consolo possível.


* Manuel Fernando Gonçalves

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