E. M. Cioran


(...) a utopia é de essência antimaniqueia. Hostil à anomalia, ao disforme, ao irregular, tende para a consolidação do homogéneo, do tipo, da repetição e da ortodoxia. Mas a vida é ruptura, heresia, derrogação das normas da matéria. E o homem, por referência à vida, é heresia no segundo grau, vitória do individual, do capricho, aparição aberrante, animal cismático que a sociedade — concentração de monstros adormecidos — visa reconduzir ao caminho certo.

em História e Utopia, tradução de Miguel Serras Pereira, Lisboa: Letra Livre, 2014, p. 100.

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