Um poema de Sara Costa


Se alguém reparar

se alguém reparar na janela fechada
por onde se pode ver o início do mundo,
eu falarei das viagens que me beberam o cheiro
e da memória a escorrer
e a misturar-se com o sangue das palavras.
se alguém reparar que o meu rosto
ilumina o mar
ou que, chama a chama,
a noite é desfragmentada até ao esquecimento,
então, talvez possa revelar
como é que consigo plagiar sorrisos
mesmo com a janela fechada.


em A Melancolia das Mãos e outros rasgos, Coimbra: Pé de Página, 1ª edição, 2004, p. 42.