Rosa Maria Martelo


As referências ao carácter orwelliano do mundo actual têm vindo a tornar-se frequentes porque, na verdade, há um vocabulário de regime — um «burocratês» — que assume, nos dias que correm, características aproximáveis das da novilíngua do distópico 1984. De matriz economicista, esta novilíngua está por todo o lado, e em Portugal tem-se desenvolvido em várias vertentes. Um exemplo recente passa pelo léxico utilizado pelo governo na formulação e divulgação de projectos como o da redução da despesa do Estado através do despedimento de funcionários públicos. (…) Note-se que, nas referências governamentais a este «corte cego nos serviços públicos», como lhe chama e com razão Pacheco Pereira, nunca ocorre a palavra despedimento: os termos utilizados são mobilidade especial, requalificação, rescisão amigável.



de «Questões de vocabulário» em Cão Celeste, número 4, Novembro 2013, p. 7.

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