Discos pedidos (62)



Sempre fui amigo da noite. A noite, qual lugar comum, também foi sempre minha amiga. O curioso é que escrevo muito pouco durante a noite. Leio, ouço música. Não escrevo. Curioso: não sou um escritor noctívago. Posso escrever sobre a noite. Mas não à noite. Sempre foi assim. Só escrevo durante o dia. E, por mais estranho que pareça, o melhor momento para mim é durante o chamado lusco-fusco. Essa parte do dia em que a noite começa a estar suspensa sobre nós.

5 comentários:

Rodrigo Neto disse...

"I have been one acquainted with the night.
I have walked out in rain -- and back in rain.
I have outwalked the furthest city light."

R.F.

Anónimo disse...

segunda-feira, Janeiro 27, 2014

... Londres do poeta para o leitor!

... Há muito tempo atrás li, na Bertrand do Chiado e por acaso um poema de Manuel A. Domingos sobre Londres. Até aí nunca a cidade me tinha despertado um arrepio. Esse poema deixou-me o coração ao pé da boca, porque há sempre algo que tem que se dizer mas que não se diz. Por medo, por orgulho, porque não, porque faltam as palavras, porque se interpretam mal... Apeteceu-me naquele momento dar um 'abanão' ao poeta e dizer-lhe para chegar mais cedo, ou perder o autocarro... Londres ficou ali. Fechado num livro que nunca comprei, num poema que li e até hoje me ficou na memória. Londres voltou a cruzar-se comigo em esplanadas ou momentos cúmplices onde se planeava a sua visita. Visita adiada. Ou porque era tempo de sol, ou porque era tempo de outra coisa qualquer. Mas as cores 'sem cor' de que o poeta falava estavam-me na memória e a minha vontade de as sentir de perto também, mas aconteceram outros planos. Há sol no resto do mundo e há outras cores. Há algum tempo uns amigos meus marcaram uma viagem a Londres. Disse-lhes que sim, que ia. Marcada com tanto tempo, no momento que lhes disse que sim, estava a pensar não ir. Paguei a viagem. O poema nessa altura voltou-me à memória, mas com ele voltou o momento em que o li, com quem o li e o plano que veio logo depois sentado numa cadeira de ferro. Os amigos, de vez em quando, sem saberem tocam-nos num lugar arrefecido. Pensei não ir. Não seria boa companhia, não era assim que queria viver os versos do poeta... Há pouco mais de uma semana resolvi que sim. Que deveria ir, perceber se Manuel A. Domingos tinha ou não razão. Meti três camisolas numa mochila, 250 libras e fui com eles. Honestamente eu acho que eles nunca pensaram que eu fosse. Eles não me conhecem. Mas o poeta também não me conhece e 'obrigou-me' a ir... fui. No momento que pisei Londres percebi o poema. O tempo que estive lá e olhava disfarçadamente para tudo, para não chamar demasiado a atenção, vivi o poema. No hostel onde fiquei e assim que consegui ter internet procurei o poema para reler... Li e percebi que é incrível, como alguém que não nos conhece nos descreve tão bem. Há autocarros que nunca deviam partir e amigos que deviam ter - mesmo sem querer - a sensibilidade de não nos deixar perder o autocarro. Foi Londres! Onde também vi um carrossel de luzes, onde disfarcei a vergonha por trás da câmara de um iphone, onde passei frio. Muito frio e caminhei à chuva. Onde percebi outra vez que o tempo tem a sua importância e que os autocarros partem à hora marcada. Foi Londres onde escrevi um poema, e não me esqueci dos versos porque um bloco de notas no telefone faz milagres. Um poema. Pode ser que alguém, algum dia o leia e sinta o mesmo arrepio de emoções que eu senti quando li 'Londres'. Deus queira que vá a tempo!


Ex. mo Senhor e meu conterrâneo;

Descobri por acaso nesta página da net www.euclaudio.clix.net uma referência á qualidade da sua poesia.
Desconhecia e por isso pesquisei melhor, descobrindo a sua obra.
Parabéns.
É que somos conterrâneos e fico sempre muitíssimo feliz pelo êxito de quem connosco tem alguma proximidade, neste caso, geográfica.
Já tentei por mim próprio indagar as suas raízes familiares e não consigo descortinar ( não sei se pertence á família Rosendo? filho do José que pertenceu á Junta de Freguesia e que eu conheço muitíssimo bem ou do Quim?) Eu sou mais velho mas tenho um irmão mais ou menos da sua idade.

Um abraço

P.S. Costumo seguir o seu sitio, que muito admiro, para saber algumas novidades culturais.







Carla Ribeiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
manuel a. domingos disse...

Ex. mo Senhor e meu conterrâneo.

Obrigado por me dar a conhecer esse texto, que desconhecia.

Sim: sou Rosendo. Filho do Manuel, o irmão mais velho do José e do Quim.

Cumprimentos e volte sempre,

Anónimo disse...

Bom dia caríssimo conterrâneo;

O seu pai conheço apenas de vista , sendo os meus contactos essencialmente com o seu tio José.
Pode falar - lhe de mim que me conhece bem; sou advogado em Coimbra, massano-4084p@adv.oa.pt o filho mais velho do Ricardo, recentemente falecido.
O meu irmão , António Ricardo, deve ter sido seu contemporâneo na Guarda.

Um abraço