A Guarda. O TMG. O Povo.


A Guarda, ao longo da sua história, foi baluarte deste país. Daí o seu nome: Guarda. A Guarda foi durante algum tempo referência nacional pelos piores motivos: autarcas de carácter duvidoso; presidentes de Institutos Politécnicos com tiques de déspotas (mas pouco esclarecidos); gestores hospitalares um tanto ou quanto caciquistas; presidentes de junta lunáticos. Mas a Guarda é hoje referência pelo melhor motivo: Teatro Municipal da Guarda (TMG).

A recente e indecente demissão do Director Artístico do TMG, Américo Rodrigues, só tem uma motivação: política. Afirmo-o sem qualquer dúvida, pois do ponto de vista profissional nada a apontar: o TMG sempre pautou o seu cartaz cultural pela exigência, trazendo novos mundos a uma cidade bafienta, envolta numa permanente névoa, parada no tempo, ultramontana.

A questão é que a Cultura, felizmente, ainda assusta muita gente. A Cultura abre as mentes, questiona, procura. Américo Rodrigues procurou sempre, enquanto Director Artístico do TMG, estas três vertentes. Mais: procurou unir uma cidade que começava a desmoronar-se. Exemplo disso: os vários espectáculos comemorativos do Dia da Cidade. Nestes espectáculos várias colectividades do concelho foram convidadas a participar. A união sempre foi um dos objectivos do TMG: unir a cidade em torno de um projecto, de uma ideia para a Guarda. No entanto, e como sabemos, quando se quer governar à maneira portuguesa, é mais fácil dividir para poder reinar. De outra maneira não se consegue promover o caciquismo, o despotismo, a imbecilidade. Daí o autarca/governante Álvaro Amaro ter demitido Américo Rodrigues.

O principal argumento (durante estes anos) que eu mais ouvi, contra a direcção artística do TMG, foi que o povo não era contemplado na programação cultural do TMG. O povo. Nunca encontrei palavra mais ambígua para definir algo, quanto estamos contra alguma coisa. Mas, afinal, o que é o povo? É um substantivo masculino; 1. Conjunto dos habitantes de uma nação ou de uma localidade; 2. Pequena povoação; 3. Lugarejo; 4. Aglomeração de pessoas. = GENTE; 5. [Antigo] O terceiro estado da Nação Portuguesa; 6. [Figurado] Grande número, quantidade. (in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/DLPO/povo [consultado em 16-11-2013]).


Penso que o principal valor da programação cultural do TMG (desenvolvida pela sua direcção artística e pelo seu Director Artístico, Américo Rodrigues) foi tentar que a Guarda não se convertesse nos pontos 2, 3 e 4 da definição de povo. Por outro lado, a decisão de demitir Américo Rodrigues do cargo de Director Artístico do TMG é, sem dúvida, um contributo para a Guarda caminhar, a passos largos, para uma simples aglomeração de pessoas, uma pequena povoação. Um lugarejo.

1 comentário:

Filomena Joana disse...

Concordo!
Não vivo na Guarda há mais de 30 anos, mas já fui várias vezes ao TMG ver espectáculos únicos no país. E faço parte do povo.