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Tardes há em que nos assaltam certos versos. Hoje foi a vez de Francisco Brines: «Busquei o azul, perdi a juventude». Estes fizeram-me lembrar aqueles outros de Rimbaud: «Par délicatesse/J'ai perdu ma vie.». Desconheço a razão de ter sido hoje, e não ontem, a memória destes versos. Coisas há que não têm explicação possível. Talvez tenha sido a chuva de hoje e não a de ontem; ou o café de hoje e que me soube aos primeiros, embora eu pouca recordação tenha deles. A memória é, sem dúvida, uma senhora traiçoeira.