Penumbra pelos leitores



Bem diferente é a Penumbra de manuel a. domingos, poeta simplista a fazer-se de parvo onde há uma melancolia doméstica resolvida da única maneira possível. E essa maneira possível única reside em obviar o óbvio, simplesmente simplificar a mais complexa das dimensões humanas. Digo: doméstico; mas sei que ao dizê-lo digo também o contrário. Isto é, a dúvida que assombra tudo é esse tédio do absurdo a que certos existencialistas chamaram náusea. Creio que manuel a. domingos é um poeta do absurdo (talvez involuntariamente, talvez não). Mesmo quando escreve poemas tão pueris como esse último, com almofadas debaixo do cu, ou aqueloutro com cabelos brancos na idade de Cristo, ele revela a estupidificação das vidas comuns, as nossas, as dos poetas, esses seres fantásticos e únicos, excluídos pelo filósofo da cidade ideal, incluídos por si próprios na República da parvalheira. Aqui abraçam a mulher no silêncio da casa, remexem o café nos lugares-comuns de Outubro, olham para tudo sem novidade e para o resto sem surpresa…

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