olá e adeus
não há pior inferno do que
o teu inferno
nenhum se compara,
às voltas na cama à
noite,
o teu cu regelado
a cabeça a arder,
tudo sem sentido, sem
sentido,
enquanto estás preso ao
teu pobre corpo e à
tua pobre vida
e tudo está a
dissolver-se, a dissolver-se devagar
em nada.
como todos os outros
corpos, como todas as outras
vidas,
estamos a ser excluídos,
postos de lado
pela doença
pelo facto de suportar
dias difíceis, anos
difíceis.
não há saída para
isto, temos apenas que
suportar,
aceitar –
ou melhor –
não pensar muito
nisso.
calçar e descalçar.
as férias vão e vêm.
olá,
adeus.
vestir, despir.
comer, dormir.
conduzir o automóvel.
pagar os impostos.
lavar os sovacos e
o pescoço
e esfregar tudo o
resto, para ter a
certeza.
escolher atempadamente o
caixão.
sentir a boa madeira.
escolher o suave, acolchoado,
caro
interior.
o vendedor irá dizer que
tens muito bom
gosto.
depois horrorizá-lo.
dizer-lhe que queres
experimentar,
ver se é do teu tamanho.
não há pior inferno do que
o teu
inferno e não há ninguém
que
o comparta
contigo.
podes muito bem ser a
única
pessoa no mundo.
às vezes sentes que
és
e talvez sejas.
entretanto, tira o cotão
do
umbigo.
aceita o que tens,
fode de vez em quando,
saúda o vazio.
foi sempre assim, foi
sempre
assim.
não grites.
não há ninguém que te
possa
ouvir.
coisas estranhas.
coisas estranhas as
cidades, as árvores,
os nossos pés a caminhar
pelo passeio,
o sangue dentro de nós
a lubrificar os nossos
corações,
os séculos a passarem
enquanto calças as meias
e as puxas
até aos
tornozelos.
Charles Bukowski, «hello and goodbye», em Come On In!: new poems, edited by John Martin, New York: Ecco, 1ª edição, 2006, pp. 222-224.
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