Versões: Charles Bukowski


olá e adeus

não há pior inferno do que o teu inferno
nenhum se compara,
às voltas na cama à noite,
o teu cu regelado
a cabeça a arder,
tudo sem sentido, sem sentido,
enquanto estás preso ao teu pobre corpo e à
tua pobre vida
e tudo está a dissolver-se, a dissolver-se devagar
em nada.
como todos os outros corpos, como todas as outras
vidas,
estamos a ser excluídos,
postos de lado
pela doença
pelo facto de suportar
dias difíceis, anos difíceis.
não há saída para
isto, temos apenas que suportar,
aceitar –
ou melhor –
não pensar muito
nisso.

calçar e descalçar.
as férias vão e vêm.
olá,
adeus.
vestir, despir.
comer, dormir.
conduzir o automóvel.
pagar os impostos.
lavar os sovacos e
o pescoço
e esfregar tudo o
resto, para ter a certeza.

escolher atempadamente o
caixão.
sentir a boa madeira.
escolher o suave, acolchoado, caro
interior.
o vendedor irá dizer que
tens muito bom
gosto.

depois horrorizá-lo.
dizer-lhe que queres experimentar,
ver se é do teu tamanho.

não há pior inferno do que o teu
inferno e não há ninguém que
o comparta
contigo.

podes muito bem ser a única
pessoa no mundo.
às vezes sentes que
és
e talvez sejas.

entretanto, tira o cotão do
umbigo.
aceita o que tens,
fode de vez em quando,
saúda o vazio.
foi sempre assim, foi sempre
assim.
não grites.
não há ninguém que te possa
ouvir.

coisas estranhas.
coisas estranhas as cidades, as árvores,
os nossos pés a caminhar pelo passeio,
o sangue dentro de nós
a lubrificar os nossos
corações,
os séculos a passarem
enquanto calças as meias e as puxas
até aos
tornozelos.

Charles Bukowski, «hello and goodbye», em Come On In!: new poems, edited by John Martin, New York: Ecco, 1ª edição, 2006, pp. 222-224.

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