Tinha acabado de ler O
Mito de Sisífio, de Camus, quando ouvi pela primeira vez a voz de Nick
Drake. Só mais tarde fiquei a saber que aquele era o livro que Drake tinha na
mesinha-de-cabeceira quando se suicidou. Nunca pensei muito no suicídio como um
acto de coragem ou cobardia. Sempre o vi como uma saída, como aquelas janelas
dos autocarros que têm escrito quebrar em caso de emergência. Uma saída não é
corajosa ou cobarde. É apenas uma saída. É claro que naquela altura nem eu nem
os meus amigos procurávamos saídas. A vida era vivida em modo “choque-frontal”.
Alguns ficaram pelo caminho. Outros, como eu, ganharam barriga, professam um
anarco-comodismo que satisfaz os nossos caprichos pequeno-burgueses. Grandes
causas? Só se forem seguidas pela televisão, no conforto do sofá, ou em directo
nas redes sociais. Mas a realidade é que carregamos todos uma pedra como
Sisífio. Só que não é para toda a eternidade (embora pareça que sim). E nós não
nos importamos muito com isso.
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