Discos pedidos (15)





Tinha acabado de ler O Mito de Sisífio, de Camus, quando ouvi pela primeira vez a voz de Nick Drake. Só mais tarde fiquei a saber que aquele era o livro que Drake tinha na mesinha-de-cabeceira quando se suicidou. Nunca pensei muito no suicídio como um acto de coragem ou cobardia. Sempre o vi como uma saída, como aquelas janelas dos autocarros que têm escrito quebrar em caso de emergência. Uma saída não é corajosa ou cobarde. É apenas uma saída. É claro que naquela altura nem eu nem os meus amigos procurávamos saídas. A vida era vivida em modo “choque-frontal”. Alguns ficaram pelo caminho. Outros, como eu, ganharam barriga, professam um anarco-comodismo que satisfaz os nossos caprichos pequeno-burgueses. Grandes causas? Só se forem seguidas pela televisão, no conforto do sofá, ou em directo nas redes sociais. Mas a realidade é que carregamos todos uma pedra como Sisífio. Só que não é para toda a eternidade (embora pareça que sim). E nós não nos importamos muito com isso.

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